invenção de eros - vítor matos e sá


Fui procurar-te para ser contigo
quando colhi das horas que invadias.
Colhi da própria dor um nome amigo
que fosse o nome exacto em que virias.

Da límpida substância dos teus risos
fui-te inventando dentro dos meus braços
e os sóis mais densos puros e precisos
vieram dar-me a sombra dos teus passos.

E já não eram meus senão de erguê-los,
a tua face e os lábios e os cabelos
e o teu olhar para ninguém voltado.

Mas quem, o pleno amor de que nascias
se o deus que a ti igual encontrarias
ficou, pelo teu olhar, desabitado?


Horizonte dos Dias, Portugália Editora, 1952